Um tempo de crise, um tempo de isolamento, um tempo de
entreajuda também. É isso que nos mostram os portugueses e é isso que nos dá
alento para acreditar que podemos iniciar um tempo novo.
“Multiplicam-se fotografias de recados deixados aos vizinhos por
pessoas que não estão em quarentena obrigatória onde é disponibilizada a
possibilidade de ir às compras ou à farmácia. As mensagens são normalmente dirigidas à
população de risco como idosos, pessoas com locomoção limitada ou doentes
crónicos.”
“O pior é ter tido a infelicidade de ter atravessado a
vida sem naufrágios, é ter ficado à superfície das coisas, ter dançado no baile
das sombras, ter patinhado no pântano do “diz que diz”, das aparências, e nunca
ter sido precipitado numa outra dimensão. As crises, na sociedade em que
vivemos, são realmente o que ela tem de melhor – mesmo correndo o risco de nos
projetarem, sem estarmos preparados para isso – para entrarmos na outra
dimensão.”
O lado positivo das crises, Christianne Singer
E sim, as crises abrem-nos caminhos, rasgam cortinas
que nos permitem um outro olhar. Reinventamo-nos, enfim. Aliás, podemos dizer
como refere Christianne Singer no livro de onde retirámos o título do nosso post,
que, como lhe contou um amigo antropólogo sobre o que lhe dissera um africano,
“nós não temos crises, nós temos as iniciações”. Iniciar, quem sabe, um tempo novo
em que a febre do consumo supérfluo desapareça, em que paremos para pensar
naquilo que é verdadeiramente importante, em que nos reconectemos com o
essencial, em que a consciência da nossa interligação nos leve a uma
responsabilidade cada vez maior perante o mundo em que vivemos, em que possamos
valorizar o recolhimento que é necessário na nossa vivência, em que vivamos com
menos pressa e mais sentido. E sim, as iniciações são dolorosas, mas existem
para nos evitar o pior.
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