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“O mundo em que vivemos está a mudar cada vez mais depressa.
E isto é particularmente verdade nos setores do desenvolvimento económico e
tecnológico.
(…)
Ao atual ritmo de mudança, é crucial que nós, cidadãos
individuais, tenhamos uma ideia clara do rumo que queremos dar ao mundo. Se
esperamos encontrar e permanecer no caminho certo, é necessário que cheguemos a
um acordo sobre as características do mundo que queremos construir. E temos de
pensar com ambição, com a maior ambição que pudermos imaginar – caso contrário,
desperdiçaremos esta oportunidade única que o mundo nos oferece. Imaginemos os
sonhos mais fantásticos e corramos atrás deles.
Eis a lista perfeita do mundo de sonho que eu gostaria que se
realizasse até 2050. Estes são os meus sonhos e espero que muitos deles
coincidam com os vossos. Tenho a certeza que gostaria tanto de alguns sonhos da
vossa lista que os juntaria também à minha. Aqui está a minha lista:
· -
Não
haverá mais pessoas pobres, mendigos, sem-abrigo, crianças de rua em nenhum
lugar do mundo. Cada país terá o seu museu da pobreza. O museu da pobreza
global ficará localizado no último país a erradicar a pobreza.
· -
Não
existirão passaportes e vistos em nenhuma parte do mundo. Todos os cidadãos
terão o mesmo estatuto e serão realmente globais.
· -
Não
haverá guerra, nem preparação para a guerra. Não existirão armas nucleares, nem
quaisquer outras armas de destruição maciça.
·
-Todas
as doenças serão curáveis, do cancro à sida, em todo o mundo. A doença será um
fenómeno raro sujeito a tratamento imediato e eficaz.
· -
Estará
implementado um sistema de ensino global, acessível a todos. Todas as crianças
serão ensinadas a aprender e a crescer com alegria. Todas as crianças serão
educadas para se transformarem em adultos altruístas e com compaixão,
acreditando que o desenvolvimento dos outros deve ser consistente com o seu
próprio desenvolvimento.
·
-O
sistema económico global encorajará as pessoas, as empresas e as instituições a
partilharem a prosperidade e a participarem ativamente na criação da
prosperidade dos outros, transformando a desigualdade de rendimento numa
questão irrelevante.
·
-Os
negócios sociais constituirão uma fatia substancial do mundo empresarial.
·
-Haverá
apenas uma moeda única e global. Desaparecerão as moedas e as notas.
· -Haverá
tecnologia disponível para detetar e monotorizar, facilmente, contas e
transações bancárias secretas de políticos, funcionários públicos, empresários,
agentes de informação, organizações criminosas e grupos terroristas.
·
-Todas
as pessoas do mundo terão acesso a todo o tipo de serviços sofisticados.
·
-Todas
as pessoas comprometer-se-ão a manter um estilo de vida sustentável com base em
tecnologias apropriadas. O sol, a água e o vento serão as principais fontes de
energia.
(…)
Todos estes objetivos são alcançáveis se trabalharmos para
eles. À medida que avançamos rumo ao futuro, acredito que será cada vez mais
fácil aproximar-nos dos nossos sonhos. A parte difícil é abrir as nossas
mentalidades. Quanto maior for o número de pessoas que concordar com estas
metas, mais depressa será possível atingi-las. Tendemos a estar tão ocupados
com o nosso trabalho do dia-a-dia e com os nossos tempos livres, que nos
esquecemos de olhar pela janela das nossas vidas para confirmar em que etapa da
viagem nos encontramos, ou aproveitarmos para refletir sobre o destino a que desejamos
verdadeiramente chegar. No momento em que soubermos para onde queremos ir,
chegar lá será muito mais fácil.
Cada um de nós devia elaborar uma lista de sonhos para
refletirmos em que tipo de mundo queremos viver quando nos reformarmos. Feita a
lista devemos pendura-la na parede para que possamos confirmar, todos os dias,
se estamos mais perto do destino.
Em seguida, devíamos insistir com os condutores das nossas
sociedades – os líderes políticas, os investigadores académicos – para nos
levarem na direção que escolhemos. Lembrem-se de que só temos uma vida, que
temos de a viver à nossa maneira e que só a nós cabe o nosso destino.
Este processo de imaginação de um mundo novo é um dos
principais elementos em falta no atual sistema de ensino. Preparamos os nossos
estudantes para o trabalho e para a carreira profissional, mas não os ensinamos
a pensar enquanto indivíduos sobre o tipo de mundo que eles gostariam de
construir. Devia ser obrigatório incluir uma disciplina dedicada a este
exercício em todas as escolas e em todas as universidades. A cada estudante
seria pedido que elaborasse uma lista de desejos e que a justificasse perante a
classe. Os colegas de turma poderiam concordar com as ideias, sugerir
alternativas ou pedir mais explicações. Todos passariam a debater qual a melhor
forma de construir aquele mundo de sonho que tinham imaginado, como o poderiam
tornar realidade, que obstáculos existiriam e que parcerias, organizações,
conceitos, conjunturas e planos de ação poderiam ser criados para atingir o
objetivo.”
Muhammad Yunus Criar
um mundo sem pobreza
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